A Reforma no mundo em
transformação.
No mundo medieval a pessoa humana
estava aprisionada a mecanismos religiosos que produziam morte. Um
aprisionamento acarretado pela falta de esclarecimento e conhecimento produzida
pela estrutura religiosa e política. Atualmente, por mais que alguns desejem
viver com a cabeça na idade-média, estão com os pés na pós-modernidade.
Navegamos em um mar cheio de informação, onde temos liberdade para querer conhecer,
duvidar e questionar, são ferramentas do nosso tempo.
A Reforma é mais que um processo histórico
com desejo de mudança institucional. Antes de tudo, é uma mudança de raciocínio,
como falou Lutero: “Se eu não for convencido pela minha consciência e pelas sagradas escrituras
eu aqui permaneço”. Pode-se entender a Reforma como o marco dessas
transformações que estão ocorrendo no mundo e nas pessoas. Um estudo sério considera
que a Reforma Protestante não era a única iniciativa nesse processo renovador e
transformador que o mundo atravessava naquele momento. Dentre os movimentos
reformadores podemos citar os mais importantes, com seus respectivos
responsáveis e lugar:
REFORMADOR/
DATA / PAÍS
|
IGREJA
|
MODELO
ADM
|
TIPO DE
RFORMA
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CLASSE
SOCIAL
|
IGREJA/
ESTADO
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Lutero/1517/Alemanha
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Luterana
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Conciliar Episcopal
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Teológica e Política
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Nobreza
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Esferas distintas
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João Calvino/1526/ Suiça
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Calvinista Presbiteriana Reformada
|
Conciliar
|
Religiosa/
Teológica
Política
|
Burguesia
|
Esferas distintas
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Henrique VIII. 1534. Inglaterra
|
Anglicana Episcopal
|
Episcopal
|
Política
|
Monarquia
|
Não
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Thomaz Müntzer. 1525. Alemanha e Outros
|
Livres ou Anabatistas
|
Congregacional
|
Teológica/
Religiosa/
Política/
Social/ Radical
|
Trabalhador
da cidade ou rural
|
Sim
|
Movimentos reformadores, tanto
religiosos como sócio-politico estão em ebulição na Europa e isso acarretou em transformações.
No sistema feudal a produção era auto-suficiente, com uma posição social que se
definia no nascimento, com um poder político local. Surgem as grandes
navegações, que colaboram com novas rotas de comércio, o encontro dos povos, o
choque cultural e de idéias; contribuindo também para o fim do sistema feudal. Começa
a surgir o mercantilismo, implantando uma nova classe social, a burguesia; isso
contribui para o novo papel da cidade, pois com o burgo vêm os mercadores, os
homens livres! Está é ênfase da Reforma – LIBERDADE!
O Renascimento proporciona uma nova
visão sobre o homem, nova concepção da natureza, novo método científico, nova
visão de mundo e Deus. O Renascimento é a grande base para as mudanças que
contribuíram para a Reforma. Pois, com o Renascimento os filósofos humanistas fazem
renascer as ideias do grego clássico de 400 a.C. na Idade-Média. Recuperam o grego
clássico e provocam um salto intelectual de mil anos na frente. Percebam, está
havendo uma mudança na cabeça das pessoas. Guttemberg inova com a invenção da
prensa móvel, e o primeiro livro impresso foi à bíblia, ajudou na
acessibilidade do conhecimento para o povo. No âmbito da cultura surgem as
pinturas, a música e tantas outras expressões culturais.
Com
esses acontecimentos na Europa do Sec. XVI, surgem, Lutero e seu amigo Felipe
Melanchton, com uma proposta que iria sacudir a Europa nos âmbitos sócios-econômicos-políticos-religiosos.
Convido-lhe a aventurar-se nos caminhos percorridos por Lutero rumo a Reforma.
Quando foi ordenado Sacerdote em
1520 ele faz a carta da nobreza cristã alemã com 27 propostas. Em 1521, no Concílio
de Worms, Lutero teve que se explicar, viajou de Wittemberg para Worms onde faz
a mais bela confissão: “Se eu não for convencido pela minha consciência e pelas
sagradas escrituras eu aqui permaneço”. Considerado fora da lei, quando deixa o
recinto deste concílio é seqüestrado e protegido, pois, corria o risco de
perder sua vida. De 1521 a
1522 fica no Castelo de Waitburgo, onde ousadamente traduz o N. T. para o
alemão, contrariando o idioma religioso oficial, o latim, com isso ele
contribui para que todo o povo tenha acesso ao texto bíblico.
Em 1526 no Concílio de Spira, cancela-se
o edito de Worms e acontece a primeira vitória da Reforma: “A religião do feudo
é a religião de seu príncipe”. Permitem-se duas religiões. Mas, em 1529, no II
Concilio de Spira cancela-se o edito da primeira. Então, no dia 19 de abril
deste ano, cinco príncipes levantam-se e “PROTESTAM” contra o cancelamento do
edito do I Concilio que autoriza a liberdade religiosa, neste momento surgem o
termo “PROTESTANTE”. Portanto, 31 de outubro de 1517, é simbolicamente o dia da
Reforma Protestante, pois, foi o dia que Lutero afixou as 95 teses na porta da
Catedral de Witemberg, mas o termo protestante surge da reação dos príncipes.
As 95 teses combatiam o mercado
religioso das vendas de indulgências, onde se comprava o perdão dos pecados,
era a venda da graça, dos favores de Deus a humanidade. Como professor de
bíblia, e ministrando os cursos sobre salmos, gálatas e romanos é que ele
desperta para os eixos centrais da reforma. Vivia em constante crise, devido
sua situação pecaminosa, buscou satisfazer e agradar a Deus como no paganismo, com
jejuns, orações, vigílias e boas-obras, mas essas tentativas deixavam-no com uma
consciência intranquila, pensando que erros acarretavam em uma ira fervente em
relação a Deus. Isso é paganismo, não cristianismo. Claramente ele expõe sua
opinião: “Eu não amava, na verdade odiava, aquele Deus que punia os pecadores”,
mas um dia na torre do castelo meditando em seu estudo, ele teve a inspiração
para a reforma, com a seguinte expressão de Paulo aos Romanos: “Aquele
que pela fé é justo, viverá”.
A Reforma Protestante de Lutero tem
alguns temas centrais ou eixos teológicos como: Solus Chistus, Sola Scriptura,
Sola Gratia, Sola Fidei. Afirmo, que o sacerdócio universal de todos os crentes
e a justificação pela fé é antecedente a reforma, mas de maneira direta ou
indireta contribuíram para a reforma. Em
Solus
Chistus o reformador afirma: somente Cristo, mediante Cristo há salvação
e o único mediador. Sola Scriptura: Somente a escritura, Deus fala através da
escritura, não somente pela tradição. Sola Gratia: Somente pela graça,
rejeição da salvação pelas obras, é dom de Deus. Sola Fidei: Somente a fé,
somente a fé em Jesus Cristo salva, rejeição a bondade humana para salvar. Soli Deo Gloria: Glória somente a Deus,
esta ideia reformadora faz crítica a toda reverência e glória outorgada as
autoridades eclesiásticas, santos canonizados e aos Papas. Toda glória é devida
somente a Deus.
O mercado religioso atualmente é forte
e competitivo, é quase uma obrigação o resgate de uma teologia séria,
comprometida e humana. O deus da idade-média não gerava vida, possuía
mecanismos de morte e opressão. O Deus da vida deseja construir uma liberdade
fraternal. Urge a necessidade de devolver a Palavra de Deus a centralidade do
culto; assim, Lutero se manifestou: “eu não fiz nada, a palavra fez tudo”;
essa palavra é Jesus Cristo, palavra final de Deus! A idade-média tentou
esconder o rosto de Deus para que ninguém o encontrasse, mas esqueceram-se que
Ele resolveu beijar a humanidade, andar conosco e conhecer as nossas dores.
Nenhum sistema, instituição ou religião conseguirá esconder Deus da humanidade
eternamente, Deus sempre terá pessoas dispostas a carregarem a cruz com os
crucificados da história.
Certa vez fui a uma festa medieval,
ministrei naquele dia o seguinte: “que medieval sejam somente as nossas
vestes, nunca a nossa consciência”. Infelizmente, o que mais encontramos
atualmente são líderes religiosos com “vestes pós-modernas, tecnologia de alta
geração, mas com a consciência e o comportamento extremamente medieval”.